A riqueza da Bíblia é inegável. Entra ano e sai ano e ela continua lá, servindo como fonte de inspiração para muitas pessoas. Apesar de não interpretá-la ao pé da letra, de não compreendê-la como 'A' palavra de Deus, mas como uma produção humana, eu reconheço a sua importância. Infelizmente o livro sagrado dos cristãos tem sido fartamente utilizado para fomentar o ódio, promover segregações, embasar preconceitos, monitorar e manipular vidas e legitimar todo tipo de pensamento em nome de Deus. Quando utilizada de maneira lúcida, contextualizada, responsável e sem pretensões de dogmatização, ela pode nos proporcionar interessantes reflexões.
Quero compartilhar com vocês um dos momentos interessantes do Novo Testamento. Não irei me ater a ficar discutindo se o milagre realmente aconteceu ou não. Utilizarei o texto bíblico apenas como ilustração, como fio condutor do meu texto. Quanto aos aspectos religiosos/sobrenaturais do relato, cada um acredite no que quiser.
O livro de Atos dos Apóstolos diz no capítulo 3 que Pedro e João, discípulos de Jesus, estavam subindo para o templo às três da tarde ao mesmo tempo em que um aleijado também era levado para lá. Todos os dias ele era colocado à porta do templo para mendigar e ao ver os discípulos, pediu uma esmola. A cena que se desenvolve então, segundo o relato bíblico, é a seguinte:
O livro de Atos dos Apóstolos diz no capítulo 3 que Pedro e João, discípulos de Jesus, estavam subindo para o templo às três da tarde ao mesmo tempo em que um aleijado também era levado para lá. Todos os dias ele era colocado à porta do templo para mendigar e ao ver os discípulos, pediu uma esmola. A cena que se desenvolve então, segundo o relato bíblico, é a seguinte:
Pedro e João olharam bem para ele, e, então, Pedro disse: "Olhe para nós"! O homem olhou para eles com atenção, esperando receber alguma coisa. Disse Pedro: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande." E o homem então foi curado de sua paralisia.
De todos os sentidos, talvez a visão seja o mais explorado do século XXI. A quantidade de informações a que os nossos olhos são submetidos dia-a-dia é surpreendente. Tudo passa pelo campo do olhar. Dizer Olhe para nós em 2012 é praticamente uma redundância. Brinquei com um amigo recentemente dizendo que hoje existe uma câmera de vídeo em todos os lugares, até nos mais insólitos. Devemos sorrir, pois quase sempre estamos sendo filmados. Quantas são as pessoas que hoje se comportam como tortas em vitrines? Quantas são as pessoas que se oferecem a olhares vorazes e críticos em redes sociais de todo o planeta? No afã de ter visibilidade, as pessoas fazem coisas absurdas, desde gravar vídeos com imbecilidades sem medida até coisas bastante lamentáveis, como sentar em frente a uma filmadora e fazer um sanduíche usando a própria genitália.
Querer visibilidade não é pecado. Querer ser admirado também não. Querer ser celebridade, depende. O problema é que as pessoas querem ser celebridade sem passarem pela fase de 'fazer' uma celebridade. Explico: para mim, celebridade é quem faz algo célebre, ou que pelo menos traga algum tipo de contribuição para esse mundo que está em estado de erosão, onde vemos dia-a-dia os valores éticos e morais se desintegrarem. Todo mundo quer ser visto, mas poucos se propõem a fazer algo importante. Querem apenas sucesso fácil. Em sua maioria, esses sucessos são desmerecidos, conseguidos à base da sorte, do dinheiro ou como um reflexo de uma sociedade embrutecida e emburrecida.
Já se tornou banal vermos (em sites de conteúdo duvidoso, obviamente) manchetes mostrando aquela subcelebridade que "sem querer" pagou calcinha ou peitinho. Já repararam em como o mar anda assanhado, arrancando biquinis de moças "descuidadas"? Atualmente, vale tudo para alcançar visibilidade, desde mostrar o seio até simular uma briga com o irmão e ameaçar acabar com a dupla para chamar atenção da mídia. Tem gente que chega ao cúmulo de ligar para redação do site Ego para avisar que estará na praia tal e que vai beijar o namorado, como se isso fosse algo fenomenal.
Dizer "olha para mim" é fácil, difícil é ter algo substancial para mostrar/oferecer. Eu olho para você, mas o que você tem para oferecer? Pedro e João tinham o que oferecer. Aliás, eles tinham muito mais do que o aleijado poderia almejar. E ofereceram.
Quanta gente existe por aí com tão pouco para oferecer, mas querendo ser célebre. Quanta gente existe por aí com tanto para oferecer, mas fechando-se como uma concha por medo ou falta de oportunidades. O mercado fonográfico, por exemplo, anda tão saturado com tanto novos "talentos" que não há espaço para talentos "excepcionais". Explico novamente: No Brasil, qualquer cantor que consiga alcançar uma notinha mais alta já pode ser considerado como de talento excepcional já que, pelo visto, qualquer um nessas terras tupiniquins tem talento, de Ed Motta a Valeska Popozuda. Suspeito que as pessoas daqui pensam que emitir sons vocais ao som de algum instrumento musical é a mesma coisa que cantar. Num país onde uma grande revista estampa o cantor Michel Teló em sua capa e o descreve como representante da cultura popular não há lugar para um talento como o de André Leonno, ou qualquer ex-calouro do Raul Gil, todos quase sempre com talento e voz muito superiores aos nossos já consagrados artistas. E é isso que a gente vai vendo: gente querendo ostentar um tesouro que não tem e gente enterrando tesouros que poderiam ser compartilhados. Em ambos os casos, só tenho a lamentar.
Ao dizer "olha para nós", provavelmente Pedro exigiu do aleijado um exercício de autoestima. Estando ele sentado no chão, teria que erguer a cabeça poder visualizar os discípulos. Acostumado a viver como um trapo humano invisível e a ser ignorado, provavelmente o nosso personagem já estivesse desacostumado a olhar as pessoas nos olhos. Sua condição de aleijado e de mendigo provavelmente já havia lhe roubado a autoestima. Ao olhar para Pedro, ele pôde ver sua vida mudar. Penso que o importante da vida seja isso: poder contribuir. Penso que qualquer tipo de sucesso que não traga beleza, contemplação, amenização de dores ou mudanças substanciais não deve ser considerado como sucesso e, como tal, não é digno de holofotes. Fazer sucesso é bom, mas ser um diferencial na vida das pessoas é muito melhor.
Eu quero ser olhado, mas quero ser olhado com admiração. Quero ser olhado como uma caixa com conteúdo, não quero ser olhado como algo que até reluz, mas que não é ouro. Quando eu estiver com meus 90 anos quero, mais do tudo na vida, ouvir o meu nome e sentir orgulho dele.
Já se tornou banal vermos (em sites de conteúdo duvidoso, obviamente) manchetes mostrando aquela subcelebridade que "sem querer" pagou calcinha ou peitinho. Já repararam em como o mar anda assanhado, arrancando biquinis de moças "descuidadas"? Atualmente, vale tudo para alcançar visibilidade, desde mostrar o seio até simular uma briga com o irmão e ameaçar acabar com a dupla para chamar atenção da mídia. Tem gente que chega ao cúmulo de ligar para redação do site Ego para avisar que estará na praia tal e que vai beijar o namorado, como se isso fosse algo fenomenal.
Dizer "olha para mim" é fácil, difícil é ter algo substancial para mostrar/oferecer. Eu olho para você, mas o que você tem para oferecer? Pedro e João tinham o que oferecer. Aliás, eles tinham muito mais do que o aleijado poderia almejar. E ofereceram.
Quanta gente existe por aí com tão pouco para oferecer, mas querendo ser célebre. Quanta gente existe por aí com tanto para oferecer, mas fechando-se como uma concha por medo ou falta de oportunidades. O mercado fonográfico, por exemplo, anda tão saturado com tanto novos "talentos" que não há espaço para talentos "excepcionais". Explico novamente: No Brasil, qualquer cantor que consiga alcançar uma notinha mais alta já pode ser considerado como de talento excepcional já que, pelo visto, qualquer um nessas terras tupiniquins tem talento, de Ed Motta a Valeska Popozuda. Suspeito que as pessoas daqui pensam que emitir sons vocais ao som de algum instrumento musical é a mesma coisa que cantar. Num país onde uma grande revista estampa o cantor Michel Teló em sua capa e o descreve como representante da cultura popular não há lugar para um talento como o de André Leonno, ou qualquer ex-calouro do Raul Gil, todos quase sempre com talento e voz muito superiores aos nossos já consagrados artistas. E é isso que a gente vai vendo: gente querendo ostentar um tesouro que não tem e gente enterrando tesouros que poderiam ser compartilhados. Em ambos os casos, só tenho a lamentar.
Ao dizer "olha para nós", provavelmente Pedro exigiu do aleijado um exercício de autoestima. Estando ele sentado no chão, teria que erguer a cabeça poder visualizar os discípulos. Acostumado a viver como um trapo humano invisível e a ser ignorado, provavelmente o nosso personagem já estivesse desacostumado a olhar as pessoas nos olhos. Sua condição de aleijado e de mendigo provavelmente já havia lhe roubado a autoestima. Ao olhar para Pedro, ele pôde ver sua vida mudar. Penso que o importante da vida seja isso: poder contribuir. Penso que qualquer tipo de sucesso que não traga beleza, contemplação, amenização de dores ou mudanças substanciais não deve ser considerado como sucesso e, como tal, não é digno de holofotes. Fazer sucesso é bom, mas ser um diferencial na vida das pessoas é muito melhor.
Eu quero ser olhado, mas quero ser olhado com admiração. Quero ser olhado como uma caixa com conteúdo, não quero ser olhado como algo que até reluz, mas que não é ouro. Quando eu estiver com meus 90 anos quero, mais do tudo na vida, ouvir o meu nome e sentir orgulho dele.
1 comentários:
Roney "esquisito" para mim é uma pessoa rica em cultura, cara o seu blog é massa e você... você Roney..É esquisitoooooooo
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