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"Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa." (Blaise Pascal)
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A postagem de hoje deveria ser sobre a Inclusão digital, mas mediante a urgência deste assunto, decidi trocar a temática, deixando a inclusão para depois. Eu estava evitando falar sobre o kit anti-homofobia mas agora não vejo como fugir dele. Em primeiro lugar, o "kit gay" só existe na cabeça do Jair Bolsonaro. O que é existe na verdade é um Programa chamado Escola sem homofobia e que conta com um conjunto de vídeos educativos a serem veiculados para alunos do ENSINO MÉDIO. O projeto, inclusive, foi elogiado pela UNESCO e pelo Conselho Federal de Psicologia. O Deputado Bolsonaro afirmou erroneamente (por ignorância ou por pura sacanagem para tentar inflamar a população) que se tratava de um programa para incentivar a homossexualidade entre CRIANÇAS do ensino fundamental. Daí a ele criar um "kit Anti-gay" foi um pulo. Que fique claro, porém, que o programa não estimula ninguém a virar homossexual, ele estimula o respeito às pessoas que vivem nesta condição. Minha passou anos tentando me ensinar a comer peixes e frutos do mar e eu nunca aprendi. Acho que tem coisa que é da natureza de cada um, que não se ensina, e sexualidade é uma delas. Ninguém ensina um homem sentir atração por outro homem. Ou ele gosta da fruta, ou não gosta.
Sou contra a distribuição deste tipo de coisa em escolas. Acho, sinceramente, que este tipo de conversa tem que ser tida em casa. Eu aprendi a respeitar os outros, a ser honesto e a cumprir regras em casa, não na escola. Vivemos já com um ensino de péssima qualidade onde as pessoas mal sabem ler e escrever e ainda vamos gastar um tempo que deveria ser gasto com a aquisição de conhecimentos discutindo essas questões? Sou totalmente contra! Contudo, se realmente houver a necessidade de um programa contra o preconceito nas escolas, que seja um programa de respeito ao ser humano, ou seja, contra QUALQUER tipo de preconceito. Não é errado discriminar apenas gays e lésbicas, é errado discriminar o ser humano. É fundamental que as pessoas aprendam a respeitar o próximo, independente da sua etnia, da sua cor, da sua religião ou do que façam entre quatro paredes. Criemos, então, um kit Anti-desumanidade.
Não estou escrevendo simplesmente para falar dos “kits”. Hoje o buraco é muito mais embaixo e bem mais fundo. Falar sobre o kit foi só ponta do iceberg. Como já deve ser do conhecimento da maioria, a presidenta Dilma Roussef decidiu proibir a distribuição de cartilhas e afins produzidas pelo MEC contendo temática LGBTT. As bancadas religiosas conseguiram o que queriam. Nada teria de extraordinário nisso se não fossem os meios utilizados para fazer o governo recuar numa decisão anteriormente tomada.
É sobre esta vitória “da moralidade, da família e de Deus” que eu gostaria de falar, aliás, falar não, eu gostaria de esbravejar. Gostaria de gritar alto contra esse lixo de politicagem feita pelos “agentes de Deus”.
Ontem, no meio da votação acerca do Projeto florestal, algo de suma importância, a corja religiosa interrompeu os trabalhos para tratar de um assunto que nada tinha a ver com o meio ambiente: o kit. Uma tremenda falta de bom senso! Se bem que nesta história toda a falta de bom senso é o de menos. De que adianta bom senso quando não se tem escrúpulos, argumentos ou caráter?
Voltando ao assunto: A corja interrompeu uma votação tão importante para fazer ameaças. Eu nem deveria ter me chocado tanto com isso, afinal de contas, onde faltam argumentos plausíveis, sobra intransigência. O fato é que os nobres deputados ameaçaram chamar Palocci para se explicar quanto às denuncias de corrupção, pedir CPI no Ministério da Educação e obstruir futuras votações. O governo decidiu então recuar. Não é a primeira vez que Dilma recua por causa da intervenção desse grupo. Aconteceu primeiramente durante a sua campanha eleitoral quando voltou atrás em algumas proposições sobre o aborto.
O ex-governador Antony Garotinho, aquele outrora investigado por irregularidades em campanhas eleitorais, regozijou em seu blog: “É uma vitória que não é contra o governo. É uma vitória da família, graças à mobilização e atuação firme da bancada católica e evangélica.”
A minha pergunta é: O que temos para comemorar? O código florestal entravou, ou seja, que se dane o meio-ambiente, que exploda o planeta... A natureza pode esperar, o que não pode esperar é o cuidado com a vida alheia. Interromper um tema importante para cuidar de picuinha religiosa? Ah, vão se catar!
O fato é que enquanto essa gente comemora e dá glória a Deus por isso, eu me enojo. Não metam Deus na sujeira de vocês. Respeitem-no! Eles não conseguiram barrar a distribuição da cartilha do MEC por méritos divinos, não tem o dedo de Deus aí, os métodos que eles usaram foram bem humanos: chantagem e barganha.
O que essa corja fez ontem foi uma negociata, politicagem do mais baixo nível utilizando a barganha, negociando coisas que não são negociáveis porque são princípios. Já ouviram falar em ÉTICA, nobres deputados evangélicos? Ou vocês acham que Deus concorda que os fins justificam os meios? Se for para o bem “do Reino”, pode-se usar de qualquer estratagema, entre elas a chantagem? Depois Nicolau Maquiavel é que era maquiavélico, não é? Sei!
Ao ameaçar cobrar explicações e investigar a corrupção caso a cartilha não fosse interrompida, eles estão automaticamente dizendo que se interrompessem, iriam fazer vista grossa, fingir que nada estava acontecendo. Ninguém vai pedir para que seja investigada a corrupção de Palocci e a corrupção do Ministério da Educação. Funciona mais ou menos assim:
"- Se o governo publicar a cartilha, a gente vai combater a corrupção e atrapalhar as votações mas se o governo não publicar a cartilha aí a gente fica queitinho, não atrapalha nada, finge que não vê a corrupção. Investigar então, nem pensar! Se fizerem o que a gente quer, a gente fica caladinho."
Combater os gays é de extrema importância para a família brasileira, combater a corrupção não. Os gays vão destruir todos os lares, a corrupção não. Os gays são um perigo para a sociedade, a corrupção não. O que afeta mais a população brasileira? Um kit contra a homofobia ou a corrupção e o desvio de dinheiro público destinado à educação e a saúde do povo?
Onde está, senhores deputados, a vergonha na cara de vocês? Mostraram que estão na mesma lama que o resto dos deputados, que jogam com as mesmas armas e desconhecem os princípios mais elementares da Bíblia. Gostaria de terminar este post com as palavras expressadas por João Alexandre, habilidoso cantor gospel e dono de uma inteligência privilegiada capaz de lhe fazer enxergar a sujeira escondida dentro dos templos evangélicos. Segue um trecho da música “Coração de Pedra” na qual ele fala sobre a Igreja:
“Um falso paraíso presente, um fanatismo distante, um cristianismo sem direção... Ali é onde todos proíbem, onde todos permitem, onde são assim: nem SIM, nem NÃO”.
Moral da história nas palavras do Pastor Ricardo Gondim: Engavetar o bem, suprimir o direito e profanar da justiça. E o pior: tudo em nome de Deus.
E você, que é um leitor evangélico, se ao tomar conhecimento deste fato você não se indignou, não quis virar mesas e destituir toda esta corja do cargo, você não pode dizer-se cristão.
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