A indústria cinematográfica, muito mais do
que a teatral ou a televisiva, é a que mais brinca com a nossa imaginação.
Através de efeitos especiais são criados monstros, sereias, deuses, vampiros,
alienígenas e toda a sorte de seres extraordinários cuja criação seria onerosa
demais para a televisão e para o teatro. No fim da semana passada eu revi
o clássico Armageddon em
casa e no cinema assisti dois filmes que me chamaram muito a
atenção: "Planeta dos macacos - A origem" e "Cowboys
e aliens".
Armageddon conta a história da luta para
impedir que um asteroide do tamanho do estado americano do Texas colidisse com
a Terra e extinguisse toda forma de vida aqui existente. Planeta dos macacos conta
a história de um macaco chamado César que é exposto à ação de um vírus que
aumenta o Q.I., a capacidade cognitiva e memória dos símios. O macaco aprende
até a falar e lidera um movimento contra os testes com animais e contra a seu
encarceramento. Ele e seus companheiros invadem circos e zoológicos libertando
os de sua espécie e deixando as ruas da cidade lotadas de macacos fora de
controle. Os seres humanos então se unem para combater a multidão de primatas
que aterroriza a cidade. Cowboys e Aliens é mais um desses filmes
em que a humanidade tem que lutar e salvar o planeta da invasão de seres
extraterrestres. Apesar de representar o mesmo enredo de sempre (Humanos X ET's),
a nova produção hollywoodiana foge aos clichês tornando-o bem interessante.
Ambientado no ano de 1873, os humanos não tem à sua disposição todo o arsenal moderno
para lutar contra os invasores. O que nós vemos em Cowboys e aliens é uma luta
desigual de alienígenas bem armados contra humanos armados com pistolas
ultrapassadas, arcos e flechas. Tudo bem diferente de produções como Independence
Day ou Guerra dos mundos.
Os três filmes não tem absolutamente nada
em comum. Este texto, que achei por bem chamar de Inimigo íntimo, saiu de
um estalo, de um pensamento que, do nada, veio à minha mente. Ao sair da sala
de cinema após assistir o último filme eu pensei comigo mesmo: "Nesta
semana a humanidade teve que vencer três inimigos."
Foi a partir deste pensamento solto, tão
destituído de um propósito real que comecei a pensar nos inimigos que o cinema
arrumou para a humanidade. Lutamos contra os dinossauros e múmias vindos de um
passado muito distante, lutamos contra androides vindos de um suposto futuro
próximo, lutamos contra a natureza criadora de tornados e vulcões enfurecidos,
e principalmente contra alienígenas, zumbis, vampiros e lobisomens.
Pensando em tantos inimigos, vejo que a sétima arte tenta nos afastar dos nossos verdadeiros inimigos. Talvez seja por um mecanismo de fuga ou apenas por não querer mais reproduzir uma realidade que nos é tão dolorida. O nosso maior inimigo não vem do espaço, não vem do passado, não é um ser mitológico e muito menos é uma máquina ou um fenômeno da natureza. O nosso inimigo mora bem mais próximo e é bem mais íntimo. O maior inimigo da humanidade, é o próprio homem. A humanidade luta contra a humanidade. O homem é o único animal que não tem predador natural dentro da cadeia alimentar, mas já estamos dando um jeito nisso.
Em tempos imemoriais, lá na antiga Grécia, a inscrição na porta do Oráculo de Delfos já aconselhava: "Conhece-te a ti mesmo". A frase, além de inspirar o modo de viver do grande filósofo Sócrates, vem também inspirando muita gente. Temos procurado nos conhecer e temos também buscado conhecer o mundo que nos cerca. O conhecimento tem nos aberto muitas portas, mas ao mesmo tempo parece que tem nos tapado os olhos para muita coisa importante. É como um brilho muito forte que nos deixa cegos. Conhecemos os mínimos detalhes do funcionamento de um átomo, as formas de procriação dos moluscos, as taxas de calorias dos alimentos, fazemos bebês em laboratórios, e já somos até capazes de dizer se o universo está se expandindo ou se retraindo e em qual velocidade acontece. Mesmo assim, com tanto conhecimento e recursos ao nosso alcance, ainda fazemos besteiras. Entre todas as besteiras da humanidade, as maiores são acreditar que podemos nos dar bem às custas do outro e crer que o sofrimento do outro é um problema apenas dele. Damos um tiro no próprio pé ao achar que dá para viver sem nos interessarmos pelo outro ou pela posteridade. TODAS as ações da humanidade serão refletidas no nosso outro contemporâneo ou no outro de amanhã (que poderá ser nosso filho ou neto). Chama-se Lei da Semeadura: colher o que se plantou. Por ignorar essa lei tão implacável é que nos matamos aos poucos sem perceber. É óbvio que ao falar em morte, não estou falando de morte física. Ainda (ainda!) não chegamos ao cúmulo de nos digladiarmos numa terceira grande guerra. A nossa morte, portanto, é moral. Estamos em crise moral.
Em tempos imemoriais, lá na antiga Grécia, a inscrição na porta do Oráculo de Delfos já aconselhava: "Conhece-te a ti mesmo". A frase, além de inspirar o modo de viver do grande filósofo Sócrates, vem também inspirando muita gente. Temos procurado nos conhecer e temos também buscado conhecer o mundo que nos cerca. O conhecimento tem nos aberto muitas portas, mas ao mesmo tempo parece que tem nos tapado os olhos para muita coisa importante. É como um brilho muito forte que nos deixa cegos. Conhecemos os mínimos detalhes do funcionamento de um átomo, as formas de procriação dos moluscos, as taxas de calorias dos alimentos, fazemos bebês em laboratórios, e já somos até capazes de dizer se o universo está se expandindo ou se retraindo e em qual velocidade acontece. Mesmo assim, com tanto conhecimento e recursos ao nosso alcance, ainda fazemos besteiras. Entre todas as besteiras da humanidade, as maiores são acreditar que podemos nos dar bem às custas do outro e crer que o sofrimento do outro é um problema apenas dele. Damos um tiro no próprio pé ao achar que dá para viver sem nos interessarmos pelo outro ou pela posteridade. TODAS as ações da humanidade serão refletidas no nosso outro contemporâneo ou no outro de amanhã (que poderá ser nosso filho ou neto). Chama-se Lei da Semeadura: colher o que se plantou. Por ignorar essa lei tão implacável é que nos matamos aos poucos sem perceber. É óbvio que ao falar em morte, não estou falando de morte física. Ainda (ainda!) não chegamos ao cúmulo de nos digladiarmos numa terceira grande guerra. A nossa morte, portanto, é moral. Estamos em crise moral.
Começamos a nos matar quando permitimos
uma proliferação insensata de juízos de valor equivocados e quando
permitimos uma inversão dos valores, sobretudo quando o TER passa a ser mais
valorizado que o SER. A inversão de valores está aí na nossa cara a todo o
momento. Ocorre, por exemplo, quando um jogador, que não faz absolutamente nada
de significante para a humanidade, recebe um salário um milionário, enquanto
professores, enfermeiros e médicos, pessoas de quem a humanidade realmente
depende, recebem salários ínfimos. Ocorre quando são disponibilizados milhões
de reais para a construção de estádios de futebol, enquanto as escolas e
hospitais caem aos pedaços e falta dinheiro para fomentar a pesquisa
científica, que poderia trazer tão grandes progressos para a sociedade.
Assistiremos jogos de futebol em estádios novinhos, com uma infraestrutura impecável,
e após isso voltaremos para casa ignorantes, doentes e atrasados. Ocorre também
quando a opinião pública, que sempre aceitou que a 'cantora' Gretchen ganhasse
o seu pão de cada dia usando a bunda, resolve fazer chacota pelo fato dela estar trabalhando nos EUA como garçonete. Talvez este seja o emprego mais
honesto de sua vida. É mais bonito para uma senhora, mãe de três filhos, ganhar
a vida fazendo filme pornô do que servindo mesas?
Assassinar os bons valores é colocar
veneno na bebida da posteridade. A construção do futuro começa sempre no
presente e deve contar com a ajuda do passado. Muita coisa tem ficado para
trás. O padre Fábio de Melo, em minha opinião uma das grandes mentes pensantes
deste país, falou recentemente algo brilhante: "Precisamos de alguém que
nos ensine o antigamente". Precisamos voltar e recuperar o que nos foi
roubado de nós mesmos no decorrer da caminhada. Tanta modernidade de nada nos
serve se não tivermos bases sólidas para sustentá-la. Ouvimos o tempo todo por aí
que o progresso nos trouxe civilização. Será? Será que com toda esta tecnologia somos mais civilizados
do que as tribos indígenas que produzem apenas o suficiente para o seu sustento
e que dividem de forma igualitária essa produção sem permitir diferenciações?
Fazemo-nos seres vis (piores que os vampiros) quando queremos tudo, ao negar ou permitir que neguem a tantos homens e mulheres o direito à vida, à educação de qualidade ou à saúde. Nos colocamos na posição de inimigos de
nós mesmos quando permitimos correntes opressoras, quando somos condizentes com
tantas formas de maldade e preconceitos e sobretudo quando nos calamos,
permitindo que a corrupção, o desrespeito e a desigualdade se proliferem. Somos
inimigos de nós mesmos quando fechamos olhos, ouvidos e a boca em relação ao
sofrimento alheio. Somos nossos inimigos quando permitimos nos acovardar diante
da vida ou quando tememos ousar. Concorremos contra nós mesmos quando escondemos
nossos candeeiros embaixo das nossas camas, impedindo que a nossa luz se
irradie e ilumine toda a humanidade neste grande quarto chamado Terra, quando
deixamos de comer o peixe por medo de engasgar com as espinhas, como diria
Gondim, e também quando sucumbimos ao pensamento de que o pouco não vale nada. Precisamos
pensar como Joe Henderson e perceber que o desafio não é fazer coisas
extraordinariamente fantásticas, é fazer as coisas que qualquer um pode fazer,
mas que jamais o fará por comodismo, preguiça, maldade ou seja lá pelo que for.
Quase nunca lutamos e quando resolvemos lutar escolhemos alvos errados. Infelizmente
os alvos escolhidos são nossos monstros internos, frequentemente identificados
no outro.
Precisamos nos aliar. Precisamos (juntos)
recuperar os valores que perderam-se em nossa trajetória. Não podemos perder de
vista a luta pelo que é justo e pelo que é honrado. Não podemos perder o
respeito, o amor e o senso de justiça em relação ao próximo. Sobretudo,
precisamos cuidar melhor do palco e do futuro. O palco é o planeta, a natureza; O futuro são as crianças. É nelas que está a salvação ou ruína desta espécie chamada
de Humana.