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domingo, 21 de agosto de 2011

Deus precisa de mim

ATENÇÃO: Este texto contém uma considerável carga de ironia.


Estou muito preocupado. Peguei-me hoje pensando em alguma coisa que eu poderia fazer para ajudar a Deus. Sério! Não deve ser fácil ser Deus. Primeiramente, eu pensei em quão ocupado Ele é: muito pecado para punir, muita oração com os pedidos mais diversos para atender, muita gente para vigiar, outros tantos para proteger e a humanidade inteira sobre a qual tem que derramar as suas bençãos. Isso sem falar que Ele não pode se desconectar um só momento. Deus não pode perder um flash! E o pior é que tudo acontece simultaneamente: confusão em países de regime teocrático fundamentalista, faxina no governo da Dilma, crise econômica nos EUA, gente revoltada com visita do Papa (é o Apocalipse mesmo!), camarote de show de Ivete Sangalo que desaba, câncer de Reynaldo Gianecchini... Tudo isso sem falar no que já é corriqueiro, quase trivial: guerra santa no Oriente Médio, fome na África, desmatamento na Amazônia, violência em favelas, drogas na Cracolândia, AIDS, etc, etc, etc.

Coitadinho de Deus! Dizem que Ele se divide em três (Pai, Filho e Espírito Santo), mas para dar conta de tanta coisa ele precisaria se dividir em pelo menos cem.

É duro constatar isso, mas Deus não é mais o mesmo. Tanto tempo de pé na estrada deve ter pesado e deve ser por isso que o Todo-poderoso anda arregimentando cada vez mais soldados para o seu exército. A cada dia que passa ficamos sabendo de uma igreja nova, uma com a denominação mais "exótica" que a outra. O próprio Jesus teve que voltar à Terra para ajudar a dar um jeito nesta bagunça aqui. Agora ele se chama Inri Cristo, tem sotaque diferenciado (resquício de sua vida anterior no Oriente Médio) e tem até página na internet: http://www.inricristo.org.br. Ele só não usa mais uma coroa de espinhos. Já basta o sofrimento da vida passada, né?

O trabalho de Deus com a humanidade é extenuante e ininterrupto. Deus teve que lidar com uma rebelião nos céus que culminou na expulsão de Lúcifer e outros anjos, criou sozinho um universo inteiro, desde os imensos astros até os protozoários, amebas e vírus, e não é que Lúcifer (agora Satanás) veio pra cá bagunçar a obra perfeita da criação? Assim não dá! Satanás futucou, futucou, até que conseguiu fazer a humanidade cair. Plantou a semente da dúvida na cabeça de Eva e ela se encarregou do resto. A humanidade preferiu questionar uma assertiva divina a aceitar cegamente uma verdade declarada. Sete dias de muito trabalho e a humanidade estragou tudo com apenas duas mordidas. De lá pra cá, Deus só teve problemas com a gente.

Mesmo tendo sido traído pela desobediência humana, o bom trabalho de Deus já estava feito. Com a criação de Adão e Eva (e não Adão e Ivo!), Deus criou a sua maior obra: A família. E foi família hétero, viu? A família perfeita, abençoada, sonhada por Deus... nem sei porque logo nela foi acontecer o primeiro homicídio da história. Sim, Caim matou Abel, seu próprio irmão. Teria sido homofobia? Claro que não! Em família abençoada por Deus não há viadinhos. Alguém já viu filho de pastor, criado com base nas Sagradas Escrituras, ser gay? Isso não existe. Sem contar que pais héteros que só geram filhos héteros.

Inconformado com sua posição de anjo caído, Satanás passou a dedicar a sua vida a tentar destruir a família, a célula-mater da sociedade, a perfeita criação de Deus. Satanás criou a devassidão, a imoralidade, a sexualidade pecaminosa, os gays, as prostitutas, os adúlteros, tudo isso pensando em destruir a família. Ele deu muito trabalho para Deus: o Senhor teve que destruir a humanidade inteira. Matou todo mundo afogado, menos Noé e sua família! Nem assim o problema foi resolvido. A humanidade cresceu novamente e de lá pra cá não para de dar trabalho: propuseram-se a construir a Torre de Babel e Deus teve que resolver misturando as línguas de modo que não conseguissem se comunicar, criaram Sodoma e Gomorra e Deus teve que destruí-las mandando fogo do céu, caíram na idolatria e na devassidão e Deus os manteve escravizados pelos egípcios durante mais de 4 séculos, criaram um bezerro de ouro para adorar no deserto e Deus teve que puni-los com a morte, e por aí vai...


Penso que Deus já resolveu sozinho problema demais. De um tempo para cá, então, ele tem contado com a ajuda de seus amados servos: gente honesta, amável, cheia do poder do Espírito Santo e, obviamente, defensora da família, da moral e dos bons costumes.

Em nome de Deus e legitimados por Ele, esse pessoal abençoado tem espalhado a palavra divina pelo planeta. São ações louváveis, dignas de destaque:
- Dizer que as pessoas não precisavam tomar banho na Idade Média arrasada pela peste negra porque já haviam sido lavadas pelo sangue de Jesus, dizer que visitar o médico era pecado e arranjar uma explicação 'espiritual' para tudo, entre outros ensinamentos;
- Atravancar o progresso da Ciência, proibindo pesquisas como estudos de anatomia (que poderiam ter salvo muita gente de doenças simples) ou importantes descobertas da astronomia, obrigando, inclusive, cientistas como Galileu Galilei a desmentir que a via láctea girava em torno do sol e não da terra;
- Criar Cruzadas, taxar muçulmanos de "infieis" e lutar contra eles, chegando a criar para isso um exército só de crianças (que foi massacrado);
- Destruir religiões pagãs indígenas;
- Destruir demônios chamados de orixás pela gente de cor;
- Perseguir, prender, julgar, torturar e matar muitos ''hereges", a saber, mulheres consideradas feiticeiras, gays, judeus, entre outros.

Esse pessoal também, muito humilde, sabe o momento de se calar:

- Calaram-se durante o Nazismo, permitindo que 6 milhões de judeus fossem mortos em campos de concentração.
- Calaram-se enquanto os europeus destruíam as tribos indígenas.
- Calaram-se enquanto os brancos escravizavam os negros africanos.

O exército de Deus no Brasil é fogo puro! Deus tem se mostrado muito preocupado com o nosso país e de um tempo para cá Ele tem levantado uma raça eleita, abençoada para pregar seu evangelho e lutar pela moralidade neste país. Esse pessoal faz marcha para ajudar Jesus a ficar mais conhecido, faz manifestação contra o casamento de gays e não admite a contratação de aberrações homossexuais, como babás lésbicas ou motoristas travestis. Deus faz milagres por meio desse povo. Tem pastor por aí prometendo mais milagres em uma noite do que Jesus fez em sua vida inteira. Da última vez que fizeram marcha pela família, sabe o que Deus fez? Ficou tão feliz com o movimento que nos presentou com o regime militar que trouxe a moralidade de volta para a nossa nação. De 1964 a 1985 nosso amado Pai usou os militares para calar a boca de muita gente que ficava falando em besteiras como democracia e liberdade de expressão. Para que liberdade? Para dar lugar à devassidão? Depois que acabaram com o regime militar esse país só piorou: é gay pra tudo quanto é lado, todo mundo falando o que quer, mulher trabalhando fora, mandando em casa, e ainda tem gay querendo casar!

Deixemos agora a ironia um pouco de lado e passemos para o papo sério. Você que leu tudo isso escrito acima aqui tem duas opções:
1 - Acreditar que Deus realmente precisa da gente para fazer a sua obra.
2 - Perceber que Deus não precisa da gente para fazer a sua obra e que tentar fazê-lo, usando o Seu nome, nunca deu em boa coisa.

Se Deus quisesse realmente resolver riscar os homossexuais do mapa, Ele já não poderia ter feito como fez com Sodoma e Gomorra? Se quisesse se livrar dos judeus, não poderia ter simplesmente evitado que Abraão engravidasse Sara e iniciasse a civilização hebraica?

Será mesmo que essa gente acha que Deus precisa deles para resolver as suas coisas? Ou o que ocorre aqui é uma tentativa ordinária de manipular as pessoas usando o nome de Deus?


Será que Deus precisa de mim? Não, ele não precisa. Quem precisa de mim é o meu próximo. Quem precisa de mim é a viúva desamparada, o menino de rua, o drogado na sarjeta, o aidético, a menina prostituída por falta de perspectivas ou mesmo pessoas com histórias de vida menos dramáticas, mas tão sedentas de amor e cuidado quanto todas as citadas anteriormente.

Infelizmente, espezinhar, apontar o dedo e criticar é muito mais fácil do que estender a mão. As pessoas cumprem à risca todos os mandamentos da Bíblia, menos o amar o próximo como a si mesmo. Falta aos cristãos o que a filosofia e a psicologia chamam de empatia, que é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, de pensar como o outro. O pastor Silas Malafaia disse recentemente em seu twitter: "Quando criticamos a prática homossexual, os gays ficam indignados". Ora, quem não fica indignado quando a sua prática é criticada? Os crentes também ficam indignados quando seus usos e costumes são rechaçados. Quem já foi perseguido por causa de sua religião (os cristãos), deveria ser mais empático e compreender melhor o quanto é ruim ter vetado o direito de viver uma vida feliz seguindo aquilo que lhe faz bem.

O mesmo pastor se afirma contra leis como a que criminaliza a homofobia porque quer ter o direito de falar contra o homossexualismo em sua igreja. Pra quê??? O que eu gostaria de saber é por que não usar o tempo gasto em criticar o outro para proferir palavras de paz a quem precisa. Por que essa necessidade de defender Deus e o seu Reino como se Ele fosse um coitadinho? Por que esse prazer tão miserável em criticar a vida alheia? Por que a necessidade de apontar o pecado alheio? Com quem esse povo aprendeu isso? De uma coisa eu sei: Com Jesus não foi.

O que eu percebo é que toda vez que o homem tenta se colocar no lugar de Deus, ele é cruel. O homem só consegue olhar para o próximo com o olhar de condenação. Parece-me que o fato de 'demonizar' o outro e suas práticas traz a sensação refrescante e reconfortante da santidade. Quanto mais o outro parece pecador, mais santo eu me sinto. Toda vez que o homem quer encarnar Deus, o Deus que nele se manifesta é o Deus sanguinário, destruidor e juiz do Velho Testamento, nunca o Deus de amor e perdão manifesto na pessoa de Jesus. Sobre isso, Blaise Pascal já dizia: "Os homens nunca fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de uma convicção religiosa."

Em nome de suas convicções religiosas as pessoas agridem verbalmente, estereotipam, atacam e até matam. Estes, nada mais são do que gente covarde que assenta-se sobre um trono religioso e esconde-se detrás de um manto de moralidade e espiritualidade para destilar o seu fel. Vejo o virulento pastor Silas Malafaia chamando os outros de otários, imbecis ou idiotas na TV ou internet. Jesus, que deveria ser o seu modelo, nunca fez isso. A Bíblia fala que Jesus andava, conversava e comia com pecadores, coisas que os religiosos da sua época não faziam. Sabe o que eu acho mais maravilhoso? Se você revirar os evangelhos nunca encontrará Jesus agredindo nenhum pecador. Maria Madalena, a mulher adúltera, o publicano ladrão, Pedro que o traiu... nenhum foi xingado ou destratado por ele. Por incrível que pareça, a ira de Jesus só se derramou contra os hipócritas religiosos da época, a quem ele chamou de raça de víboras e de sepulcros caiados, lindos por fora, mas contendo podridão em seu interior.

O ÚNICO grupo que Jesus criticou abertamente nos evangelhos foi o grupo dos religiosos hipócritas. Preciso dizer mais alguma coisa? ¯\_(ツ)_/¯

Postado por Roney Torres às 15:21 12 comentários Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no X Compartilhar no Facebook
Marcadores: Religião

Inocência


Enquanto o meu novo texto não fica pronto, gostaria de compartilhar um poema que uma pessoa muito, muito querida, escreveu para mim. Vivemos longe, 600 km nos separam, mas mantemos uma relação virtual super gostosa e foi essa relação que a inspirou:

Se os olhos daquele a quem não cansas de olhar
São tão límpidos e cintilantes como as ondas do mar
Não hesite, siga em frente... não há a quem culpar
Se os seus sonhos são versos
De faíscas e neve
Então que as estrofes sejam
Tão claras quanto o luar
Se em teu sangue corre o sumo da tua terra
O oceano é o que lhe resta desvendar
E se os meus versos são tão caricatos
Quietinhos e infantis
A ponto de você os estranhar
Saiba que neles há o sentimento
De alguém, que em você não para de pensar.
Mas se ainda assim há uma dúvida
Que insiste em lhe tomar
Não abro espaço para discórdias
É apenas o meu estranho jeito de te gostar

Postado por Roney Torres às 11:42 0 comentários Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no X Compartilhar no Facebook
Marcadores: Outras profundidades

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Celebrando preconceitos

Data histórica na vida política deste país: A Câmara de São Paulo aprovou nesta terça-feira, dia 02/08, o Dia do Orgulho Hétero. O projeto foi aprovado em votação simbólica e ainda precisa ser sancionado pelo prefeito Gilberto Kassab. O texto é de Carlos Apolinário, deputado evangélico pelo DEM, e teve apoio da bancada evangélica.

Em seu blog, o autor do projeto diz o seguinte:

"A Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta terça-feira (02/08/2011) projeto de minha autoria que cria o Dia do Orgulho Hétero. Quero deixar claro que o meu objetivo não é combater a figura humana do gay. Até porque, como cristão, tenho a obrigação de amar a todos, independentemente de sua religião ou de suas preferências sexuais. Porém tenho combatido os privilégios e os excessos praticados pelos gays, entre eles a realização da Parada Gay na Paulista, enquanto de lá foi tirada a Marcha para Jesus, com o argumento de que a avenida não é o local adequado para grandes concentrações. Também me manifestei contra a entrega de camisinhas e gel pela prefeitura e pelo governo do Estado na Parada Gay de 2010.

Vou continuar respeitando a figura humana dos gays. Serei sempre contra qualquer atitude agressiva contra quem quer que seja. Porém continuarei combatendo os excessos e privilégios praticados pelos gays."
(Fonte: http://migre.me/5pq8l)

Eu não poderia me calar diante de um prato cheio como este. Gostaria de propôr algumas ponderações tomando por base as palavras do gênio que criou este projeto. :

1 - "Quero deixar claro que o meu objetivo não é combater a figura humana do gay".
Claro que não! O orgulho deve ser uma coisa natural. A gente tem orgulho porque tem que ter, nunca para ameaçar, contradizer ou fazer oposição a alguém. Se o seu orgulho for apenas para contrariar o outro, não dê a ele o nome de orgulho, o nome correto para isso é "picuinha".

2 - "Até porque, como cristão, tenho a obrigação de amar a todos, independentemente de sua religião ou de suas preferências sexuais".
O amor não é, nunca foi e nunca será uma obrigação. Se você ama porque é obrigado, você não ama. Walcyr Carrasco, autor de novelas da Rede Globo, foi preciso em um comentário que fez para a o Blog da VEJA/SP: " A grande importância de Cristo, no plano das idéias, da Ética e da Fé foi justamente transformar a visão de “olho por olho, dente por dente”, do Velho Testamento, em “amai o próximo como a ti mesmo”, do Novo. "O deputado, afirmando-se cristão, deveria conhecer mais os ensinamentos de Jesus, a quem diz seguir.

3 - "Porém tenho combatido os privilégios e os excessos praticados pelos gays, entre eles a realização da Parada Gay na Paulista, enquanto de lá foi tirada a Marcha para Jesus, com o argumento de que a avenida não é o local adequado para grandes concentrações".
Então está explicado. É realmente picuinha. O que o move não é o orgulho de ser hétero, é o desejo de vingança por causa da Marcha para Jesus. O nome disso eu já falei aqui no blog: Hipocrisia. É não viver o que sente, não ter coragem de assumir os sentimentos negativos e esconder-se atrás da capa da moralidade e da benignidade para dar vazão a sentimentos e ações pútridas. Quando estas pessoas irão entender que Jesus não quer e nem precisa de marcha nenhuma?

3 - Também me manifestei contra a entrega de camisinhas e gel pela prefeitura e pelo governo do Estado na Parada Gay de 2010.
Parabéns deputado! É bom mesmo que todo homossexual fique logo doente e morra, né? Isso é o que eu chamo de amar o próximo! Só gostaria de lembrar-lhe, que o coquetel de medicamentos que o Estado é obrigado a fornecer para TODO portador do HIV sai mais caro do que preservativos e gel, viu? O dinheiro para bancar esses medicamentos sai dos nossos impostos e poderia ser utilizado em coisas importantes, como melhorar a segurança ou o salário dos professores. Nosso dinheiro não nasce em árvores não.


Duas questões muito sérias se colocam para mim neste momento: A primeira está relacionada exatamente a entender que tipo de orgulho uma pessoa heterossexual deveria sentir. A segunda fica no grande questionamento acerca do papel dos políticos em nosso país.

Ter orgulho hétero é a mesma coisa que comemorar orgulho de ser branco, de ser homem ou de ter nascido rico. Não é errado, mas é desnecessário. Grupos como o dos negros, dos homossexuais ou das mulheres tem orgulho porque passaram por fases históricas de opressão, de aniquilamento, de negação de direitos, de exploração. São grupos que superam preconceitos e tem que se reafirmar diariamente. Se não há hoje um dia do branco, do homem ou do rico é porque nunca precisou. São historicamente privilegiados e eu não vejo nenhum grande feito em festejar privilégios. Se orgulhar de poder andar tranquilamente de mãos dadas com a pessoa que ama, de poder beijar, e de poder se expor como quiser enquanto outros não podem fazer o mesmo, sendo que estamos num país onde todos são (teoricamente) iguais, é vergonhoso.

Tomando como base os gays, o grupo em questão, é necessário pensar que eles devem celebrar seu dia de orgulho. São eles que sofrem preconceito e discriminação na escola, em casa, na rua... isso quando não ocorre coisa pior. O dia do Orgulho gay é um dia de luta contra o preconceito, é um movimento político, tem uma razão de ser. Não é apenas uma comemoração ou uma satisfação de egos. Celebrar orgulho hétero é, em minha opinião, uma tremenda falta de bom senso, ou uma retaliação. Sejamos coerentes, né?

Minha segunda preocupação é muito maior que a primeira, afinal de contas, todo mundo tem o direito de ser idiota. O que não podemos é permitir que haja uma substituição do necessário pelo supérfluo. Há a necessidade de se pensar acerca do papel dos políticos em nosso país. É necessário observarmos atentamente o que esses homens estão fazendo nas cadeiras do legislativo. Pensemos criticamente: É para este tipo de coisa que elegemos esses caras? É para ficar criando dia disso, dia daquilo? Já não temos mais dias no calendário para tanta comemoração! Todo dia é dia de 2 ou 3 coisas.


Este nobre deputado legisla em São Paulo, a maior cidade da América Latina, com a maior população do Brasil, e uma quantidade incalculável de problemas sociais e ele está preocupado com este tipo de picuinha? Que tipo de homem político é ele? Enquanto celebra o seu orgulho hétero, centenas de pessoas tem as vidas despedaçadas pelas drogas na Cracolândia. A educação, a saúde e a segurança estão cambaleando e ele, ao invés de pensar em saídas para problemas como estes, está pensando em celebrar orgulho de ser hétero? Faça-me o favor!

O que mais vem à minha cabeça neste momento é Renato Russo cantando Perfeição e nos conclamando a celebrar a estupidez humana, a juventude sem escola, a falta de hospitais, os roubos, as epidemias, o tráfico de drogas, o nosso passado de absurdos gloriosos, nossas injustiças, a fome, a intolerância e a incompreensão. Ficar pensando em um projeto de lei tão banal e mesquinho diante de tantas outras urgências que temos é de uma imbecilidade medonha. Mais do que isso: é desonesto para com a população. Ele está muito mais preocupado em lutar contra aquilo que a sua fé condena do que em buscar melhoria da qualidade de vida dos seus eleitores.

Deixo com vocês três questionamentos:

1 - Até quando iremos eleger políticos tão sem plataforma política séria e tão despreparados para lutar pelo que realmente interessa?

2 - Até quando iremos eleger políticos que não fazem nada a não ser mamar nas tetas do Estado enquanto fingem, com projetos de lei ridículos, que trabalham?

3 - Até quando iremos permitir esta mistura de religião com política? O Estado é LAICO. Decisões não podem ser tomadas em pautadas por convicções religiosas. Está claro, muito claro, que o deputado evangélico, foi movido muito mais por princípios religiosos e sentimento de revanche do que por orgulho de ser hétero ou qualquer outra coisa.

Enquanto a gente pensa, proponho cantarmos uma outra música, desta vez embalados por Cazuza e seu "Blues da Piedade":

"Agora eu vou cantar pros miseráveis /Que vagam pelo mundo derrotados / Pra essas sementes mal plantadas/ Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena Remoendo pequenos problemas Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz, mas não ilumina suas minicertezas (...)

Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem."
Postado por Roney Torres às 16:54 6 comentários Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no X Compartilhar no Facebook
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Baiano. Professor. Capricorniano. 34 anos. Dependente de música, livros e internet. Apaixonado por gente inteligente.
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