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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Rehab (Clínica de reabilitação)

Demorei um pouco para escrever sobre os dois assuntos que monopolizaram as atenções de todos os veículos de comunicação nos últimos dias: A morte precoce da cantora Amy Winehouse e os atentados ocorridos na Noruega. Primeiro veio a dúvida sobre qual deles escrever pois não estava nos planos escrever sobre os dois, até mesmo pelo fato de que, teoricamente, um não têm nada a ver com o outro. Depois me veio a vontade de observar como se comportaria a mídia e a sociedade. Após observação e algumas leituras, eu percebi uma possível ligação entre tragédias tão diferentes. A primeira, uma morte anunciada; a segunda uma surpresa nefanda.

Este tempo de observação foi crucial para que eu percebesse o que une os dois temas: A hipocrisia. Vejamos cada um separadamente:

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"Na ilha de Utoya ao norte de Oslo, capital da Noruega, um homem armado abriu fogo contra os participantes de um acampamento de jovens, organizado pela juventude do Partido Trabalhista Norueguês, que atualmente está no governo do país. Entre 400 e 600 pessoas participavam do evento e quase 80 foram mortas no atentado. O atirador, vestido com um uniforme de policial, entrou no local e começou a disparar contra os jovens. Era prevista uma visita do primeiro-ministro Jens Stoltenberg ao acampamento. O autor dos disparos, Anders Behring Breivik, de 32 anos, é um fundamentalista cristão, ligado à extrema-direita e à maçonaria, neoconservador e vocal defensor do Estado de Israel" (Fonte: Wikipedia)

A última mensagem que Breivik publicou no Twitter remonta a 17 de Julho e é uma citação de um filosofo inglês, John Stuart Mill: “Uma pessoa com uma crença tem tanta força como 100 mil pessoas que não têm mais do que interesses”. Anders Behring Breivik, define-se como “conservador”, “cristão”, amante de caça e de jogos de consola. Descreve-se também, na sua página facebook, como um ”nacionalista”.

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"A cantora inglesa Amy Winehouse tinha 27 anos e um histórico de envolvimento com álcool e uso de drogas. Alvo constante dos tabloides ingleses por sua rotina de abuso de drogas, brigas e escândalos conjugais com o ex-marido, Blake Fielder-Civil, também viciado em drogas, Amy foi presa por duas vezes em 2008. A cantora foi encontrada morta em sua casa, em Londres, neste sábado (23/07), segundo a Polícia Metropolitana de Londres vítima de uma overdose." (Fonte: G1)

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A vida é realmente uma caixinha de surpresas. Quem diria que uma drogada, barraqueira e bêbada como Amy Winehouse seria a responsável por jogar o colete salva-vidas para uma sociedade que começaria a se debater, afofando-se no que seria um grande problema? A morte de Amy aconteceu um dia depois dos atentados na Noruega e serviu para 'ofuscar' um pouco a repercussão do mesmo. Certamente, a morte precoce da cantora escondeu algumas verdades e fez com que se passassem desapercebidos dois problemas sérios, um relacionado ao preconceito explícito e outro relacionado com a hipocrisia.

Explico: Chocados com a carnificina dos atentados na Noruega, TODOS os veículos de comunicação apressaram-se em colocar a culpa em alguém. Quem seria o monstro capaz de causar uma explosão e entrar atirando covardemente e ceifando a vida de dezenas de jovens? Resposta fácil: um terrorista islâmico. Não são os islâmicos que explodem carros-bomba? Não são eles os monstros que atormentam a vida dos cristãos em todo mundo? Não são eles (e só eles!) os fundamentalistas, os cegos e fanáticos que espalham o terror pelo planeta? Estava óbvio que o responsável pelos ataques era um monstruoso muçulmano alienado. Qual não foi a surpresa de toda imprensa mundial! Ao invés de um baixinho barbudo com a cabeça coberta por um turbante e ideias absurdas causadas pela ação do fortíssimo sol do deserto do Oriente Médio, o autor do ocorrido era alto, louro, de olhos claros, intelectualizado, nascido e criado em um país Ocidental de primeiro mundo, e, pasmem todos, CRISTÃO.

É neste momento da conversa que entra a 'Hipocrisia nossa de cada dia'. Além do preconceito expresso no fato de se condenar de antemão um muçulmano por uma chacina causada por um cristão, a mídia oculta informações relevantes. Ao noticiar os atentados, sempre omite o fato do cara ser cristão e nunca, eu disse NUNCA, o trata como fundamentalista ou terrorista. Esses termos são resguardados para os islâmicos. Eles sim são terroristas! Um cristão que pratica o mesmo ato de fundamentalismo é tratado como "ativista" ou "atirador". Nunca ele é retratado como alguém que espalha o terror. Gente nojenta! Não passam de hipócritas que varrem sua sujeira para debaixo do tapete ao invés de limpar a casa corretamente. Ao invés de abrir o assunto e se discutir o problema do fundamentalismo, que é não é uma prerrogativa islâmica, a sociedade prefere apelar para o ocultamento.

É mais cômodo esconder que ideias extremadas podem surgir de qualquer lugar, de qualquer religião, de qualquer cultura e que, vindo de onde vier, é sempre um mal. O fundamentalismo é baseado, antes de mais nada, em certezas. Como eu tenho medo das certezas! Elas cegam pessoas, engessam pensamentos, congelam sentimentos. Certa está Clarice Lispector, que reconhece que o que não sabemos é a nossa melhor parte. O fundamentalismo, fecha as portas a um diálogo crítico. A não contraposição de ideias põe em risco o desenvolvimento humano, cria a unanimidade e, como sabiamente observou Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Lembro-me perfeitamente de uma discussão que tive há meses atrás com uma amiga evangélica. Indiquei um texto interessantíssimo para que ela lesse e pensasse sobre algumas coisas e ela me disse: "Não vou nem ler. Eu já conheço A verdade. Conhecer, filiar-se e apegar-se a uma única verdade é matar a própria capacidade de crescer. Mas onde Amy entra nesta história? Ora, Amy Winehouse é o tapete, mas não menos vítima da hipocrisia e da maldade da sociedade.

Quando a sua morte foi anunciada na rede eu estava online e acompanhei tudo de perto, desde os prantos dos fãs até a interminável lista de piadas envolvendo a morta, as drogas e o álcool. Sob os meus olhos vi desfilar toda espécie de comentários. Os jornalistas aproveitaram todo esse vendaval para simplesmente engavetar os aspectos mais ominosos da bagunça causada por Breivik. Por que esculachar um cristão se tem uma louca drogada para falarmos mal? Por que não a usarmos como bode expiatório? Por que não usarmos o seu drama e a sua vida infeliz para esconder os nossos dramas e parecermos tão mais sóbrios e inteligentes?

Antes de continuar, que fique bem claro aqui que eu não sou fã da Amy e não faço apologia às drogas ou bebidas. Nunca gostei da cantora, não bebo e nunca sequer cheguei perto de consumir alguma droga, nem mesmo cigarro. Não estou aqui como um fã ressabiado por estarem falando mal da minha ídola. A voz de Amy não me agrada e acredito que se ela fez sucesso foi muito mais por oferecer uma alternativa diferenciada de música do que por talento vocal. Estou aqui como alguém escandalizado com a hipocrisia. Aliás, para mim a hipocrisia entorpece tanto quanto a cocaína que Amy cheirava compulsivamente.

Algumas horas após o anúncio do falecimento da cantora, muita gente já reclamava que não aguentava mais ouvir nada a respeito. Ressurgem então, as Madres Terezas de Calcutá. Gente de alma muito limpa, muito abnegada e muito preocupada com as mazelas do mundo. Muita gente postando no Facebook e Twitter que "morrem milhares de pessoas de fome todo dia e ninguém dá importância, aí vem uma drogada e morre, causando uma revolução". Quanta falta de senso do ridículo e quanta hipocrisia! Gente oportunista que não faz absolutamente nada pelas crianças da África e vem agora aproveitar-se da ocasião para aparecer e dar lição de moral nos outros. Só por curiosidade fui ver o histórico de postagens destas pessoas. Nunca postaram uma linha sequer sobre o sofrimento do mundo, sobre a fome, sobre as doenças... mas vem agora se sublimarem usando a coroa do humanitarismo. Vidas digitais dedicadas a apenas postar uma foto atrás da outra, comentar a vida alheia e repetir frases famosas que ocasionalmente lhes confiram uma suposta intelectualidade e vem agora criticar quem sente a perda de uma grande cantora. Quem realmente quer ajudar, faz. Ao invés de só falar, faz assim: http://migre.me/5mABN

Os outros, não sei se pior ou não, vem dizer que foi bem feito, que ela procurou, que já era esperado... Gente linda, bem resolvida, inteligente, que acha que a morte de uma pessoa que padeceu nas mãos do vício é insignificante. Não é. Qualquer vida humana perdida, é um dano para a humanidade, ainda mais a de alguém com talento, originalidade e tão pouca idade.

Amy, recusou-se a ir para a Rehab (clínica de reabilitação), mas a nossa sociedade precisa urgentemente ir para lá. Precisamos nos curar desta hipocrisia que nos consome a cada dia, dessa falta de compromisso com a verdade, do fundamentalismo, da religiosidade cega, sem compromisso com um mundo melhor. Precisamos nos curar do vício de apontar o dedo inquisitório para o outro, da ideia de superioridade, da mentalidade tacanha de que o inferno é sempre o outro. Precisamos ir para a Rehab sobretudo, para recarregar as nossas esperanças. Precisamos voltar a pensar na ideia proposta por Jean Paul Sartre:

"(...) A esperança sempre foi uma das forças mais dominantes das revoluções e das insurreições e eu ainda sinto a esperança como a minha concepção de futuro."

(Jean Paul Sartre, 1963. Prefácio de Os condenados da Terra, Frantz Fanon)

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Marcadores: Cotidiano

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O gosto amargo do futuro

Hoje, tive uma das piores sensações da minha vida, a sensação de que o futuro pode ser amargo. Geralmente sou muito otimista, mas tem momentos em que a realidade se joga na frente da gente de uma maneira tão enfática que não nos deixa alternativa senão parar tudo e analisar cautelosamente a vida.

Sentada do outro lado da mesa em que me encontrava, uma mãe em lágrimas reconhecia a sua incapacidade de colocar a vida escolar dos filhos no lugar. Reconhecia também a sua impotência frente a um mundo que está cada vez mais de cabeça para baixo, sendo engolido pela permissividade e pela irresponsabilidade dos adultos, sobretudo dos pais. O problema dela é que os filhos estão com notas baixas, são imaturos e só estão pensando em namorar. Até aí, o caso dela não tem nada de excepcional. Quem não sabe que esta é a realidade da maioria dos adolescentes? O que causa perplexidade nesta história não é o problema dos filhos, é quem seja a mãe.

A mãe citada é uma professora universitária da área de Educação, dotada de uma inteligência incrível, antenada com o mundo, sensível e muito responsável na criação dos seus filhos. Eu diria que ela é uma raridade. O fato de uma mulher desse quilate reconhecer-se impotente é nada mais, nada menos, do que aterrador. Se ela que é diretamente ligada à educação prevê um futuro nebuloso e sente-se incapaz de lidar com a realidade, o que será das pobres mortais mães sem estudo!? Se ela, que deveria ensinar como se educa, não tem respostas, imagine a situação de outros pais com os mesmos problemas, mas sem o arsenal intelectual adequado para resolvê-los. Reconhecer-se incapaz de resolver o problema não atesta, de forma alguma, incompetência ou fracasso de sua parte. Atesta sensibilidade e consciência de que o problema não pode ser resolvido por apenas uma pessoa.

Recentemente, li um texto espetacular de Eliane Brum, uma das colunistas da Revista Época. Ela faz uma análise da geração que vem surgindo e observa que é ao mesmo tempo a geração mais preparada e a mais despreparada. A mais preparada por ter mais recursos à mão do que todas as outras. Eles tem cultura, recursos, acesso a informações e tecnologia, no entanto, ao mesmo tempo são os mais despreparados para lidar com a vida fora do ninho. Estão sendo criados sem entender duas grandes premissas da arte de viver: a frustração e o esforço. Não sabem lidar com frustrações e acham que tudo na vida pode ser conseguido optando pelo menor esforço.

As consequências de uma geração crescer desta maneira serão desastrosas. O futuro dos meninos e meninas que frequentam o ensino fundamental hoje está fortemente ameaçado. Estamos criando, com o aval de muitos pedagogos e psicólogos, uma sociedade permissiva, alienada, erotizada, imatura, espetacularizada e vulgarizada. Explico: a nova pedagogia dá todas as chances de alunos despreparados passarem de ano. Eles não precisam desenvolver o senso de responsabilidade. Só não passa de ano hoje quem não quer, as facilidades estão todas lá: recuperação paralela, trabalhinhos, Conselho de classe e até mesmo aquilo que era obrigação, como copiar a atividade, tem que ser tratado como mérito. Se não valer ponto, simplesmente eles não fazem. Já se acostumaram com a maciota, o joguinho dos combinados e a interminável prorrogação de prazos. Aí vem a Psicologia com os seus novos "não pode". Não pode bater, não pode castigar, não pode isso, não pode aquilo. Eu sou eternamente grato por cada uma das palmadas que a minha mãe me deu, mas hoje se um pai der um puxão de orelha num filho, é perigoso ele ser denunciado e ir parar numa cadeia. Meu pai apenas olhava para mim e eu já sabia o que ele queria dizer. Levei, sim, algumas surrinhas, mas aprendi o que muitos de meus alunos não aprenderam: respeito aos mais velhos. Ontem, ouvi uma menina de 11 anos chamar a mãe de desgraçada.

A supracitada mãe educadora afirma que é amarrada o tempo inteiro pela permissividade das outras. Ela tenta educar seus filhos de uma forma mais rígida, acompanhá-los de perto, impor-lhes limites, mas é bombardeada o tempo todo porque seus filhos veem os colegas fazendo tudo que lhes dá na cabeça sem que os pais tomem providências sérias a respeito. Isso cria em suas mentes a ideia de que a sua mãe é repressora e ultrapassada. Inevitavelmente, um sentimento de revolta toma conta da cabeça desses meninos.

A nossa mãe educadora não acha normal (e eu também não) a filha de 13 anos viver toda maquiada como se fosse uma mulher adulta, não acha normal namoro entre pessoas de 11 e 12 anos de idade, nem a filha com esta idade ir sozinha às festas. O problema é que os outros pais acham. Batem no peito com orgulho e afirmam: "A minha filha (menina de 12 anos) namora na porta de casa". Onde está a grandiosidade disso? Tratar uma pessoa que deveria estar brincando e estudando como se fosse uma mulher adulta, não me parece muito inteligente. Carlos Alberto Parreira, em entrevista após a derrota da seleção masculina de futebol para o Paraguai, disse que atribuía o fracasso à falta de experiência de jogadores como Ganso, Neymar e Pato, que tem entre 19 e 23 anos. Sabiamente ele disse: "Eles ainda precisam de experiência e essa experiência só vem com o tempo. Em futebol não se pode pular nenhuma fase. Se fizer isso, algo vai dar errado lá na frente". Ora, com a vida funciona da mesma forma.

Vivemos numa era de 'abandono' dos filhos pelos pais. Não entrarei na questão se é proposital ou não, acho que não cabe aqui, mas uma coisa é certa: os pais estão cada vez mais relegando a outrem a educação dos seus filhos. Este outrem, quase sempre, é a escola. Estamos em vias de voltar a uma educação integral, onde o aluno entrará na escola pela manhã e sairá no fim do dia. Está errado! A escola não pode tomar para si a obrigação de dar conta de promover uma educação total neste país. Ela não pode assumir uma obrigação que é dos pais. A família continua sendo a célula mais importante da sociedade. A criança/adolescente precisa ter contato com a família, com o pai, a mãe, os irmãos. Outra coisa: a escola mal está dando conta de trabalhar os conteúdos para os alunos devido ao ritmo alucinante com que as informações vão e vem, imagine agora se ela, além disso tudo, ainda tiver que ensinar os meninos a amarrar sapato, falar corretamente, se portar à mesa, ou imprimir-lhes um bom caráter. Os pais não podem fugir da obrigação de educar os seus próprios filhos, mas estão fugindo. A criança tem propensão a aprender, a descobrir o mundo. Se ela não aprender com os pais, aprenderá com o mundo. Recentemente vi uma frase num cartaz que me deixou estupefato. Dizia assim: "Seja pai do seu filho antes que um traficante o adote". E a gente sabe que o risco é grande. Se os pais não ensinarem valores consistentes aos filhos, o mundo também não o fará. Tive acesso à track list do CD da Gaiola das popozudas, cujo título é "Começa a cachorrada". Pelo título, imagina-se o conteúdo. As músicas variam de péssimo para execrável gosto: "Agora virei puta", "Traz a bebida que pisca", "Minha buceta é o poder", "Quero te dar", "Sem calcinha", "Fiel é o caralho", "Tô com o c* pegando fogo", "Comece a me chupar", entre outras. Por detrás de uma desculpa de 'cultura de periferia', coisas pútridas são jogadas para ser consumidas por essas crianças/adolescentes.

À medida que os pais se furtam da missão de educar seus filhos no sentido de ensinar valores éticos, eles vão ficando à mercê das informações (ou desinformações) que encontrarem pela frente. E quando penso nisso, já me vem um gosto amargo na boca.

O que será do futuro deste mundo de crianças tão erotizadas? Sinto meu estômago embrulhar quando vejo menininhas tão novas com shortinhos minúsculos dançando músicas para lá de sensuais, extrapolando os limites da vulgaridade, como se fosse algo normal. Alguns adultos ainda aplaudem e dizem "Olha que gracinha". Da maneira que são expostas à vulgaridade, ficam também a mercê da futilidade. Percebo que a raça humana está num processo de esvaziamento. Estamos cada vez mais propensos a não valorizar coisas com conteúdo, a sermos cada vez mais vazios, ou cheios de informações inúteis. Não sei qual é o pior. Esta semana uma aluna de nono ano perguntou ao professor o que era o The Beatles e uma outra achou que Saramago fosse o nome de um deus. São somente dois exemplos. Eles desconhecem os grandes nomes da literatura, a boa música, os bons filmes e estão altamente interessados na vida de ex-BBBs, como se esses fossem produtores de algo relevante.

A alienação impera. Nossos adolescentes não tem visão crítica, acham tudo normal. Não questionam nada, apenas engolem. Consomem alegremente todo o lixo produzido por esta mídia de jornalismo marrom, descompromissado com a ética, com conteúdos relevantes e com a verdade, onde publica-se o que se 'Ouve' e não o que 'Houve'. A vida de sub-celebridades interessa muito mais do que Filosofia, Política ou Literatura. Aliás, coisas como a filosofia são demasiadamente enfadonhas e complicadas para eles. A razão disso? Simplesmente, preguiça de pensar. Por que pensar se existe o Google? Basta encaminhar-se ao Google ou ao Wikipédia quando surgir alguma dúvida.

Vivemos na era do conhecimento fast-food. Ninguém quer aprender nada de substancial e querem tudo na hora. Os poucos que querem, querem tudo rápido demais e algumas coisas exigem tempo e dedicação. O conhecimento não pode ser tratado com tanta leviandade. Ele deve ser construído, mas esta geração acostumada a receber tudo na mão não está disposta a fazê-lo. E não está nem aí. Falta vergonha. Observo que eles não tem vergonha de parecerem burros. Tem vergonha de não ter dinheiro, de não estar de acordo com a moda, de não ter o corpo da Valeska Popozuda, de não ter o Ipad de última geração, mas não tem vergonha de sua ignorância.

Resumindo, se os pais não tomarem para si novamente a responsabilidade de criar seus filhos, ensinar-lhes valores, impor-lhes limites e os estimularem na busca pela sabedoria e pela consciência crítica, num futuro bem próximo teremos problemas muito maiores do que a falta de água no planeta.
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Marcadores: Educação

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dia do Amigo

"A gente não faz amigos, reconhece-os". Vinícius de Moraes

20 de julho. Dia do amigo. Dia desnecessário. Qualquer dia na vida em que não temos contato com um amigo, seja virtualmente, pessoalmente ou por telefone, tenho certeza de que seja um dia perdido. Amigo é aquele que faz os nossos dias especiais. Qualquer dia é dia do amigo. Qualquer dia é dia de boas risadas, é dia de aconchego, é dia de compartilhamento, de proteção ou de consolo, mesmo que sejam dias nublados. Alguns destes amigos não precisam nem ser humanos.

Peguei-me pensando na razão pela qual os seres humanos se unem uns outros. Que mágica há que nos faça escolher uns em detrimento de outros? Seria algo divino? Seria algo relacionado com outras vidas? Seriam escolhas deliberadas ou inconscientes? Seria o destino? O que nos faz estabelecer relações tão fortes que superem até mesmo laços de sangue? Por que alguns amigos são mais importantes do que irmãos?

Não sei responder, assim como não sei responder porque algumas amizades simplesmente se acabam. Não sei responder porque certas pessoas simplesmente não sabem valorizar a amizade.

Sei reconhecer amigos falsos. Os bajuladores são os primeiros na lista da falsidade. Gente que só sabe te elogiar não é digna de confiança, a menos que você seja Deus. Com este tipo a gente ri, se diverte, viaja junto, mas não confia nem espera nada. Amigo de verdade é o primeiro a te dar um puxão de orelha quando se faz necessário. Pessoas que não se prendem também devem ser olhadas com cautela. Se a pessoa abre mão de outras amizades com facilidade, um dia vai chegar a sua vez. ‘Amigo’ que só está ao seu lado quando as coisas vão bem e que não suportam o seu sucesso, não são dignos da sua amizade. Como diria como nosso Drumond, “Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.”

Creio cada dia mais que algumas coisas na vida só são aprendidas através da experiência, da vivência. Uma dessas coisas é a capacidade de aprender a diferenciar o que vale e o que não vale a pena. Algumas amizades simplesmente não valem a pena. Eu, particularmente, abro mão mesmo. Tem gente com quem não vale a pena brigar, não vale a pena ofender, não vale a pena se irritar. Simplesmente a gente abre mão e deixa ir. E que vá em paz. Ou não.

Tenho poucos amigos. Sempre foi assim. Sempre optei pela qualidade ao invés de quantidade e acho que isso vale para todos os aspectos da minha vida. Sempre optei pelo menos que vale mais. Prefiro também ter pouco e dar conta deles do que ter uma multidão e não poder contar com eles ou não poder dar-lhes a atenção devida. Conheço muita gente, até mesmo porque a minha profissão me propicia isso, mas não os considero amigos. A diferença entre amigo e um conhecido é gritante.

Minhas histórias com meus amigos são bem estranhas. Meus maiores e melhores amigos nascem por meio do amor ou do ódio gratuitos. De primeira vista ou eu os amo ou os odeio. Geralmente aqueles a quem eu começo odiando por algum motivo, qualquer que seja, serão os meus melhores amigos. Quando eu olho para uma pessoa e ela me incomoda, eu já sei que ela têm tudo para entrar para o meu mais seleto grupo de amizades especiais. Tenho amigos que comecei achando insuportáveis porque se achavam lindos demais, outros porque falavam demais, outros porque eu considerava tolos demais. Estes hoje são especiais DEMAIS.

Desejo aos meus amigos dias de intensa felicidade, muito sucesso, muita saúde, muita paciência para saberem lidar comigo, muito dinheiro para me emprestarem, etc.

Obrigado por tudo. Sempre. Eu amo vocês.

"E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado."

Postado por Roney Torres às 19:08 1 comentários Enviar por e-mail Postar no blog! Compartilhar no X Compartilhar no Facebook
Marcadores: Dias especiais

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Navegar é preciso...

Sentado frente ao Farol na praia da Barra em Salvador eu olhava o mar. A água estava incrível, espelhando o céu azul e se batendo contra as pedras. Bem longe, alguns barcos navegavam. Fiquei olhando cada um deles singrar e me veio à mente de forma bem espontânea um trecho do grande Fernando Pessoa: "Navegar é preciso".

Os últimos dias voltaram-me à memória. Era o terceiro dia em que eu estava em Salvador e comecei a me lembrar de tantas coisas que me aconteceram. De todas as minhas viagens (e não foram poucas) talvez esta tenha sido a mais cheia de aventuras. Conheci muita gente, passeei muito, conheci boates, dancei horrores, malhei em uma academia na Barra enquanto observava as pessoas correrem pela praia, fui a um restaurante árabe, fui a um restaurante italiano, comi uma feijoada divina na casa de uma amiga que mora em frente à praia de Itapuã, entre outras coisas. Foi uma passagem bem movimentada pela Baía de Todos os Santos.

Viajar sozinho tem as suas vantagens. A maior delas penso que seja a oportunidade do autoconhecimento que ela propicia. O fato é que na correria do dia-a-dia a gente pouco se escuta e pouco analisa mais friamente o que acontece. Na impossibilidade de conversar com outras pessoas, você conversa consigo mesmo, ou com Deus. Em vários momentos me peguei falando comigo mesmo: "Olha como o mar está agitado hoje". Ou com o Ser divino: "Meu Deus do Céu, olha aquilo ali"! Parece louco, mas é assim que funciona. Não ria de mim.

É incrível como o pensamento humano corre rápido. De uma coisa a gente passa a pensar em outra coisa, depois em outra, faz ligações telepáticas, ressuscita lembranças e sente saudades, sobretudo dos amigos, dos companheiros outras de viagens.

Fernando Pessoa estava certo, navegar é realmente preciso. Vou mais além: Navegar, voar, correr, andar, pilotar, dirigir, pedalar, patinar, caminhar... independente do verbo e do meio de transporte utilizado, o importante é não ficar parado. Existe uma frase de Stendhal que eu gosto demais. Ele diz que é preciso agitar a vida, caso contrário, ela nos roi. Que verdade poderosa! Fico pensando em quanta gente vive por aí sendo roída pela vida, soltando os pedaços como a madeira quando roída por cupins. Quanta gente vive por aí sendo corroída por mágoas, pela falta de movimento, pela falta de alegria, pelas dores e amores do dia-a-dia.

Tenho pena de gente que não navega. Tenho pena de gente que não se movimenta, que não vive, que apenas sobrevive ou vegeta. Tenho pena de gente também que não sabe apreciar, valorizar e amar a vida com todas as forças. Tenho pena de gente que acha que não é preciso trilhar novos caminhos. Sabe o que acontece quando a gente trilha sempre o mesmo caminho? A gente se acostuma com ele e deixa de ver o belo. Transformamos assim o belo em banal. Durante o percurso de uma hora que fiz de ônibus da Barra até Itapuã, reparei nas pessoas dentro do ônibus. Todo percurso era feito pela orla, ao lado do mar, e a maioria absoluta dos passageiros, acostumados com trajeto, sequer olhavam para a beleza estarrecedora do mar a lhes sorrir. Acostumaram-se. O mar perdeu o brilho. Se o mar, algo tão imenso, perde o brilho para tantas pessoas, imagine o que acontece com coisas menos portentosas.

Quando falo da necessidade de viajar, não estou me referindo a longas e chiquérrimas viagens feitas a Paris ou Veneza. Penso que o local é o de menos, o importante é o movimento, mesmo que seja para o mesmo local. Vou sempre a Salvador, fico sempre no mesmo hotel, mas cada viagem é diferente. A gente pode fazer muitas viagens dentro da nossa própria cidade, dentro do nosso próprio espaço, dentro da nossa própria vida. O importante é movimentar-se.

Conheço gente que passa a vida inteira ouvindo o mesmo tipo de música, vivendo com os mesmos móveis, as mesmas roupas, indo aos mesmos lugares, comendo as mesmas coisas... Não quero isso para mim. Tenho uma fome de vida que não me permite isso.

Tenho feito da minha vida uma grande viagem, baseando-me nas palavras do compositor Rômulo Paes, inscritas num monumento localizado na Rua da Bahia em Belo Horizonte: "A minha vida é esta, subir Bahia e descer floresta". Quero sim, no final da minha vida, olhar para trás, analisar tantas coisas que acumulei em variados movimentos e pensar: "Foi muito bom!" Desejo o mesmo para você.

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Baiano. Professor. Capricorniano. 34 anos. Dependente de música, livros e internet. Apaixonado por gente inteligente.
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